sexta-feira, dezembro 10, 2004
Eu não estou apaixonada por ninguém, mas deixo para os apaixonados de plantão...
PAIXÃO EM 7 TEMPOS
1) Estar apaixonado é um estado de graça.
É o Nirvana em carne e osso, o Jardim do Éden, o Paraíso depois do Juízo Final. Sabe-se que se está apaixonado quando tudo nos lembra o ser querido, cada nome de rua, cada título de matéria do jornal...
Quando se está apaixonado tudo se encaixa maravilhosamente: os feriados duram sempre uma semana, as noites não antecedem um dia de trabalho, as ligações telefônicas não precisam ser pagas
2) Apaixonados não pensamos nas horas e prazos, no orçamento maldito de cada mês, no que rola de bom nos points da cidade. Estar apaixonado é andar nas nuvnes, sonhar com o ser desejado, acordar com essa pessoa na cabeça, bolar momentos a sós, imaginar presentinhos dados e recebidos, tirar de perto as lembranças de ex-amados. É tentar aprender a cozinhar, ler livros sugeridos pelo seu amor, fazer ginástica como se embelezar o corpo fosse urgente e preciso.
3) Estado de graça, a paixão. Mas estar apaixonado é também estar a mercê. Estar apaixonado é ser como um barquinho bailando no mar num fim de tarde. Parece tudo bom, águas mansas a espelhar nosso sorriso e, de repente, a marola alta e inesperada o põe à deriva. E ele não vira. O barquinho-coração acha que não vai "guentar" a saudade, o ciúme, o medo. Teme perder essa pessoa pra outro aventureiro que cruze o mar bravio da vida do seu amorzinho.
4) A paixão é um estado de graça apenas por alguns minutos, no máximo dias. Enquanto entorpece como um alucinógeno, nos faz achar tudo fácil, as distâncias mínimas, o tempo eterno. Ao acordar, descobrimos que a paixão é irreversível. Uma vez nascida, gerada, ela nega a semente de onde veio e se declara eterna, oriunda do sempre, intrínseca a nosso ser. Ela se torna soberana, domina o pensamento. Será enquanto tiver de ser. É irrevogável a paixão.
5) A outra descoberta é que a paixão está mais para Hades do que para Éden. A paixão é o reino de Plutão, planeta do sexo, do mistério, dos sentimentos profundos e perturbadores. É o inferno queimando nosso peito, uma comichão nos fazendo querer engolir o ser amado, nos fundirmos a essa pessoa que, mais do que nos atrair, parece fazer da gente um novo alguém que simplestmente não é mais nada sozinho.
6) A paixão é a Sansara do corpo e da mente, é a fraqueza da carne, mas é a fortaleza do coração. Pois quem nunca se apaixona é mais do que bobo, é como uma bactéria que causa doença sem o saber. Quem vive defendendo o próprio coração não tá com nada, não se assusta com a marola mas também não desfruta da brisa amena que o barquinho solto no mar sabe muito bem o quanto é gostosa.
7) Quem nunca se apaixona precisa se apaixonar, perder o prumo, aceitar entrar no labirinto sem saber onde é a saída. Ou, por outra, se alguma saída há. Pois a saída é a parte pior de uma paixão, e encontrar um labirinto sem saída é o sonho de todo enamorado.
Mônica Buarque
| Cilene Mansini Cindy Grimm 3:36 PM || |